Wilkins, Tom

Estados Unidos da América, 1951 — 2007

O que sabemos sobre Tom Wilkins pode ser resumido em poucas palavras: acredita-se que terá vivido de 1951 a 2007 e provavelmente residiu em Boston. Então, como devemos interpretar o seu corpo de imagens? Servem de ilustrações, ainda que com alguma crueza, de como a televisão, e com ela a sociedade americana, moldaram a imagem da mulher desejável da época. Torna-se evidente que Wilkins levanta questões muito mais profundas, que vão desde a procura da identidade à sublimação da libido. O autorretrato de Wilkins, tirado ao espelho com o rosto obscurecido pela câmara e vestido com um soutien, funciona como a chave para este enigma. Ao examinar e reunir estas Polaroids como um editor, Sébastien Girard descobre a principal pista escondida no cerne da obra: a assinatura de Wilkins colocada na moldura branca da fotografia. Esta Polaroid final parece ofuscar todo o corpo da obra, abrindo o complexo domínio da questão de género. A obra é única e caleidoscópica, absorvida pelo seu único tema, levando a paixão ao ponto da documentação metódica, aplicada e estudiosa. Possui o magnetismo das estrelas que fotografa, através de um olhar que se imagina transportado e extasiado. Com um gesto que fascina e apaixona, tornando-se tão natural como um reflexo através da repetição. Plano após plano, Tom Wilkins transforma-se num instantâneo da feminilidade no ponto de viragem da década de 1980, encarnando a voracidade confortável e antecipatória do espectador. Wilkins chega mesmo a construir uma memória. O imediatismo da polaroid, que capta instantaneamente uma imagem com um único movimento, responde perfeitamente a este esforço – ao contrário de Miroslav Tichy, cuja obsessão voyeurista depende dos acidentes de desenvolvimento, das variações na abertura e no tempo de exposição. Através desta metódica coleção de temas femininos elevados à condição de ícones, Tom Wilkins revela-se e esquiva-se simultaneamente, deixando-nos finalmente sozinhos perante a beleza azulada do seu cativante conjunto. Ao transformar esta coleção num livro, Sébastien Girard acrescenta uma dimensão ficcional à fotografia documental de Tom Wilkins, disponibilizada através da sua enigmática história. No âmbito editorial, constitui o guião de um filme ainda por realizar ou desenterrar.
Source: Galeria Christian Berst