Fernandes, Jaime
Portugal, 1899 – 1969
Jaime Fernandes é inequivocamente o mais reconhecido artista da Arte Bruta/Outsider Portuguesa. Porém, este reconhecimento acontece sobretudo fora do país, facto que se explica quer pela perda de uma grande parte da sua obra, quer porque a maioria remanescente se encontra dispersa em coleções no estrangeiro. Esta obscuridade prende-se com factos a que não são estranhas as circunstâncias da sua vida isolada, a forma como desenvolveu a sua obra e como esta posteriormente circulou: diagnosticado com esquizofrenia em 1938, Jaime foi internado por mais de três décadas no Hospital Miguel Bombarda (Lisboa), onde viria a morrer em 1969. De acordo com testemunhos e referências feitas aos desenhos nos registos clínicos do hospital, e com as cartas que escrevia à mulher, Jaime Fernandes começou, de forma inesperada, a desenhar aos 66 anos, quatro anos antes da sua morte. A totalidade da sua obra conhecida é composta por desenhos não datados, feitos com esferográficas coloridas sobre diversos tipos de papel. Neles um reduzido formulário de figuras, entre as quais animais imaginários, figuras humanas ou antropomórficas surgem e ressurgem em inúmeras variações, sempre desenhadas numa densa trama de linhas. As cartas, outros escritos e os seus desenhos foram filmados, já depois da sua morte, por António Reis e Margarida Cordeiro, dando origem ao filme Jaime (1974), que marcou o primeiro momento público de divulgação da obra do artista. Recuperando as palavras de António Reis, Jaime Fernandes «tinha perfeita noção do espaço a ocupar pelo desenho ou pintura. Como estava limitado pelas pequenas dimensões do papel, muitas das suas figuras-homens têm os braços caídos ou levantados, enquanto as figuras-animais têm a cauda caída. Portanto, as atitudes do desenho estão sempre em função da delimitação do papel, para a qual ele achava sempre uma solução plástica genial. É possível que também estejam ligadas a uma estereotipia emocional, obsessiva e a arquétipos…»